Li um texto muitíssimo
interessante da publicitária, radialista, relações públicas, psicóloga
organizacional, ...Patricia Lins, que repasso para vocês.
"NÃO! O MEU FILHO NÃO FAZ ISSO!"
Fico intrigada com essa frase, melhor com essa maneira de
pensar: "NÃO. MEU FILHO NÃO FAZ ISSO!".
Vou tentar me explicar por três óticas minhas - vale a
redundância:
1 - Quando eu era criança, no papel de filha: eu não era do
tipo de aprontar. Era aquela criança inteligente e bonitinha que todo mundo
gostava. Mesmo assim, tinha meu lado "sombrio". Por exemplo: lá em
casa, era proibido xingar. Bom, eu não saía xingando pela rua, na ausência dos
meus pais, mas adorava soltar uns belos palavrões nas rodinhas de amigos.
Quando acontecia algo - e, me parece, que os adultos de hoje em dia têm essa
dificuldade de entender e aceitar que, onde há mais de uma criança reunida,
acontece algo... - "grave" ou "um problema", tenho a
lembrança de ver minha mãe nem defendendo, nem acusando a gente. Geralmente,
ela procurava saber o que havia acontecido com todos os possíveis envolvidos.
Outras mães já chegavam nervosas e preocupadas em provar a inocência dos
filhos, já dizendo: "Não. Meu filho não faz essas coisas...". Sabe
essas cenas de filme, onde uma criança "atentadinha", sem limites,
mimada e apimentada quebra uma vidraça e faz cara de vítima e os pais culpam
qualquer outra pessoa, para defender o filho? Pois é, eu vi muito isso. Várias
vezes, vi mães de amiguinhos "pagarem esse mico". Nós, as crianças,
adorávamos ver aquelas cenas e nos "acabávamos" de rir "pelas
costas" dessas mães iludidas. E o mais intrigante é que, justamente as
mães dos que aprontavam na surdina eram as que mais se expunham e expunham a
cegueira delas. Não digo que mãe tenha que desconfiar do filho, mas o benefício
da dúvida ajuda... apurar antes de julgar e condenar é melhor do que alimentar
no filho de que ele é um santo, ainda que mate gente. Enxergar ajuda a ajudar.
Talvez esse tenha sido o problema daquelas mães, elas não queriam ter o
trabalho de ajudar o filho, portanto, melhor nem ver quem ele é, além do que é
em minha frente. Penso que a maneira como meus pais agiram comigo e com meus
irmãos estreitou um vínculo sincero entre nós, onde a gente assumia o que
fazia, mesmo sabendo que encararíamos uma punição merecida. Tanto que onde
morávamos, éramos referência de "bons filhos", até pelas mães
neuróticas. Mas, meus pais nos deram essa condição, a gente confiava neles.
Mesmo "aprontando", a gente assumia que errou e encarava. Nós - eu
meus irmãos - tínhamos/temos nossos pais como grandes amigos e com respeito que
se deva aos pais.
2 - O estigma na escola, como mãe de um aluno "problema":
na escola de Peu, no início, tínhamos uma parceria bem bacana. Eu contava com a
equipe e a equipe sabia que podia contar comigo. No prédio maior, a equipe era
outra e de certa forma, recentes na escola. Bom, depois de inúmeros trabalhos -
psicoterapia, equoterapia, natação, eu em terapia, marido em terapia, rotina da
casa desenvolvida em cima de dar limite a Peu sem estressá-lo com sobrecarga de
atividade... enfim, ele começou a responder de maneira positiva. Pedro tem uma
combinação explosiva, onde podemos resumir em ansiedade e inteligência elevada.
Ou seja, estabelecer limite é tarefa árdua e de todo mundo falar a mesma língua
para evitar brechas, pois ele é é muito sagaz e consegue argumentar de maneira
que justifique cada atitude dele. Bom, aconteceu que na escola, ele piorou o
comportamento no ano passado, para a surpresa minha, da psicóloga dele e do
pessoal da equoterapia. Então, a escola me expõe o Pedro em sala de aula.
Afirmo que reconheço aquele Pedro e digo: "é questão de tempo, agora,
porque eu sei quem é esse Pedro que vocês me trazem e vejo ele melhorar seu
comportamento aqui fora. Ele não se tornou santo, mas já melhorou. Precisamos
entender o que está acontecendo aqui na escola...". Pronto! Assinei a
sentença de mãe que deixa a mão queimar no fogo e, para eles, eu estava dizendo
"Não. Meu filho não faz isso.". Pelo contrário, o que eu estava
dizendo era "Sim. Eu sei que meu filho é capaz de fazer isso, mas existe
solução.". Percebi que estava sendo estigmatizada e incompreendida por
conta do retorno em forma de um sorriso mudo de ironia como quem diz:
"Mãe...". Compreendo o porquê da escola agir assim... vi mães e pais
de coleguinhas de Peu afirmando categoricamente: "Não. Meu filho não faz
isso!". Inclusive, houve um incidente entre Peu - e, dessa vez, ele foi
vítima dele mesmo - e um coleguinha dele do tipo "sonso" - é, gente,
criança sonsa existe, sim - onde o coleguinha grudava em Peu, quase uma sombra.
Eles foram ao mesmo brinquedo, no parque, ao mesmo tempo, só que um de frente
para o outro e colidiram. Os colegas foram testemunhas oculares - cômico, se
não fosse trágico. O coleguinha levou aos pais que Pedro o empurrou. Como Pedro
era "famoso" pelo que aprontava - hoje, essas mesmas crianças que
levavam para casa as "artes" de Peu, levam um feedback diferente para
casa e a escola nem se deu o trabalho de escutar e ver o que os coleguinhas
estavam vendo... - os pais foram á escola. A professora explicou o que houve.
Os pais, ignoraram as informações e perguntaram se "os pais desse menino
estão sabendo quem é o filho deles?". A escola afirma que sim e que já
estávamos empenhados no trabalho com Peu e sugeriram que eles observassem mais
o próprio filho, pois ele seguia muito Peu, muito perto, quase colado e que
essas colisões seriam mais frequentes. Os pais não gostaram. Burburinho entre
pais, me chegou que ela - a mãe do coleguinha - iria pedir "a cabeça"
da professora... Essa professora era tão bacana que a filha era aluna dela e
ela sempre soube estabelecer os papéis de maneira muito sensata e sem
comprometer a qualidade da sua aula. De tamanho modo que a filha dela, certa
vez se mordeu e veio me dizer que havia sido Peu - pois ele batia muito nos
colegas, na época - e ela viu a cena, interveio e explicou que ela havia se
mordido. Ou seja, ela estava atenta a tudo, mesmo Peu dando o maior trabalho.
Ser mãe de filho em fase escolar já é trabalhoso, imagine ser mãe e professora
da própria filha? Mas ela deu conta e deu show! Dora, você é minha ídola! Essa
confiança e abertura deu o tom ainda mais forte na parceria com a escola em
prol de esforços para permitir e descobrir como agir com Peu a ponto de
ajudá-lo. Esse era o foco. Por isso, essa de "meu filho não faz isso"
é papo de pai e mãe cegos.
3 - No condomínio, como observadora: gente, não tem laboratório de
observação de relacionamento melhor do que condomínio, viu?! Já morei em vários
e de diversos níveis sociais. E é tudo igual: haja pai e mãe barraqueiro!
"Onde houver mais de uma criança reunida, ali estarei", falou a voz
do problema. E penso que essa voz nunca tenha falado tão sério! Pois bem,
atualmente, vejo é coisa. Houve um incidente onde a mãe de um menino processou
o outro, por conta de briga na quadra. O argumento que ela usou, nossa, mostrou
o motivo do porquê o menino não evolui como ser humano e continua sendo sonso e
conhecido nosso, dos pais que frequentam o play. Ela alegou que o filho havia
sido espancado. E foi, mesmo. Só que, no dia anterior, eu mesma vi o filho dela
batendo em outro menino - e menor do que ele - e xingando horrores; fora que
esse menino, sem saber que eu estava por perto, estava ensinando Peu a xingar e
dizendo que eram palavras bonitas, por exemplo, ele disse: "Peu, diga aí:
po**a, car****, 'eu sou v**do' que você vai estar dizendo que é cara
legal...", quando ele viu a minha sombra, saiu correndo e se escondeu,
pensando, inocentemente - sim, eles têm esse lado inocente de que ninguém vê o
que fazem... talvez isso seja reforçado pelas atitudes dos pais - que estava
invisível. Ensinou a outro garotinho - que já anda com ele - a dizer
"porra", porque no Aurélio, segundo ele, o mais novo, mostra que isso
quer dizer "cara legal" e que o pai dele o ensinou. Lógico que o pai
não ensinou para ele, mas ele sabia que daria mais credibilidade usar esse
argumento. Mais aqui do condomínio - daria um livro de "vamos abrir os
olhos e a mente para plantar boas sementes, em vez de sem mente (vi essa brincadeira
com sementes e sem mentes no facebook e adorei!) : alguns meninos estavam
arremessando pedras na casa do vizinho e, ao chamarem os pais, qual o
argumento? "Não. Meu filho não faz isso porque não é a educação que dou
para ele!". Pergunto: isso ajuda a resolver ou criar um problema maior? Em
outro condomínio que morei, a câmera de segurança no elevador social estava com
defeito, todos sabíam, até que um menino/vizinho, resolvei fazer xixi lá
dentro, bem ao lado do síndico da época. O síndico, primeiro como pessoa,
questiona aquela atitude e o menino responde que "meu pai paga condomínio
para quê?". Pois, como ser humano transtornado e como síndico em sua
função, acompanha o menino até em casa. Pede para conversar com o pai e relata
o ocorrido. O pai: "prove que meu filho fez isso!". Aqui no
condomínio: meninos sobem no teto na guarita de segurança ; escalam a lateral
do edifício; brincam destruindo o parque infantil... molham todo o play ao
sairem da piscina e correrem pela área que deveria estar seca... afrontam os
porteiros, para mostrar "poder", monoploziam a quadra... O que eu
penso: natural para um prédio com pouca área de lazer e tanto menino - do
gênero masculino, mesmo - junto e sem orientação, educação e vínculo com os
pais. Sabe o que geralmente acontece? Os pais ficam brigados, fica um
clima terrível no condomínio - porque, sim, influencia no coletivo - e os
filhos dão a lição que ninguém aprende: eles mantêm a amizade! Eles brigam e se
perdoam. Com uma boa influência do adulto, eles podem diminuir os índices de
agressividade, o que não acontece. Aqui no condomínio tem muito
"menino", imagina essa testosterona toda num espaço pequeno? Sem
apoio e uma relação saudável entre pais e filhos - eu sei que existe a índole
de cada filho, não ignoro essa interferência, mas a socialização estabelece um
limite de ação, não de transformação, que permeia a pode colaborar - os
condomínios continuarão sendo vítimas de si mesmos e da falta de educação moral
e ética. Conviver passa a ser um desgaste, em vez de um prazer.

Como crescem as crianças que "não fazem isso!"? O que leva a
nós pais e mães deixarmos a mão no fogo até queimar, em vez de ajudar o
processo de transformação?
Não estou dizendo que a ma/paternidade seja tarefa fácil. Mas, facilitar
para o vazio e superficial dessa maneira não ajuda. Aliás, ajuda a
desconstruir.
A gente não precisa, por outro lado, estabelecer um tom de condenação,
como eu fiz com Peu, de achar que ele estava envolvido em tudo de errado. É
preciso estar aberto, disposto a compreender o que aconteceu e permitir que
eles se resolvam. E nós, apenas mediadores - desde que sejamos justos de
natureza e sensatos, não tendenciosos.
Conviver é uma arte! Primeiro, aprendamos a conviver com nós mesmos. O
demais, surge em consequência. É aquela história: "quem não sabe brincar,
não desça para o play".
Saudações maternais,
Pat Lins.
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Para deixarmos um mundo melhor para
os nossos filhos, deixemos filhos melhores neste mundo! Pat Lins.
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